O MEU Roskilde
Ouço falar de Roskilde, o festival, desde que comecei a prestar atenção a coisas relacionadas com música e festivais. Antes ainda de começar a ir a festivais de Verão, ir a Roskilde já estava na minha "to-do list." A espera foi menos longa do que podia, na altura, imaginar. Este ano, fui a Roskilde pela primeira vez.
O meu entusiasmo por festivais de verão não é o mesmo de há uns anos atrás. Ainda assim, em Roskilde, voltei a sentir o entusiasmo e a excitação do primeiro festival. Vendo bem, este Roskilde foi o primeiro festival a que fui sozinha, o primeiro festival em que participei como voluntária, o primeiro festival em que não acampei, e o meu primeiro festival fora de Portugal. De várias formas, foi uma espécie de primeiro festival. Talvez por isso, mal o festival acabou, senti a necessidade de escolher a história que melhor descreve "o meu primeiro Roskilde":
Os M83 foram uma das minhas grandes motivações para fazer de Roskilde 2012 o meu primeiro. Cerca de 15 minutos antes da hora prevista para o início do concerto, comecei a procurar um espacinho no meio da multidão onde pudesse ver um dos ecrãs. Com sorte, encontrei um lugar onde podia ver um dos ecrás, tinha espaço para me mexer e até conseguia ver uma boa parte do palco. Com tanta visibilidade, não podia sair dali. Poucos minutos depois de me instalar, estudar a melhor posição para a minha grande mochila e dividir bem o peso do corpo pelas duas pernas, o rapaz que está à minha esquerda começa a soprar bolas de sabão para a minha cara. Eu acho bolas de sabão uma coisa fofinha, mas acho incomodativo estar a apanhar com bolas de sabão na cara repetida e propositadamente. Olho para o rapaz e faço um misto de cara de má e cara de pessoa que está divertida. O rapaz diz-me, num inglês estrangeiro de origem não-identificável, "estava a ver se conseguia por um sorriso na tua cara, e estou quase a conseguir." Perante expressão mais lamechas, sorrio.
O concerto começa. Os movimentos da multidão de escandinavos mais altos que eu obriga-me a ir mudando de lugar ao longo do concerto para conseguir ver. Afasto-me, por isso, pouco a pouco, do rapaz de origem desconhecida.
O concerto decorre. E corre bem. Nas músicas menos dançáveis começo a divagar sobre como será uma relação amorosa com um francês. Foi este o pensamento alternativo ao "será que o amigo anthony Gonzalez é gay?"
No fim do concerto, saio da área daquele palco. Tenho de fazer tempo até ao próximo concerto, que só vai acontecer daí a 1 hora. Mas estou sozinha, de maneira que caminho devagar e sem destino.
Sinto qualquer coisa a tocar-me nas costas, parece uma ponta de guarda-chuva. Quando me viro, vejo um mini guarda-chuva cor-de-rosa choque, um miúdo desconhecido e o rapaz das bolas de sabão. O miúdo desconhecido diz, "parece que andas por aqui sozinha. Se não tens de encontrar os teus amigos, podes juntar-te a nós."
Fazemos conversa de ocasião. O rapaz das bolas de sabão e os amigos são, precisamente, franceses.
Pouco depois de revelarem a sua nacionalidade, aceleram o passo. Têm de encontrar os seus amigos que estão mais à frente. Perco-os de vista. E não voltei a ver o rapaz das bolas de sabão.