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Hoje apetece-me ter um blog.

Hoje apetece-me ter um blog.

Voltei a mudar de casa, em Copenhaga. Espero que desta vez seja uma mudança mais deifinitiva do que as anteriores. Não quero dar mais festas de inauguração de casas novas.

Desta vez, a minha casa é normal e maravilhosa. Estou numa residência mas numa casa só com rés-do-chão e tenho tudo só para mim - casa-de-banho, cozinha e quarto. E tenho vizinhos. Não tenho mobília, mas em breve começarei a ter. Sinto que mudei para o mais próximo da perfeição que pode existir em Copenhaga. Nada de colegas de casa estranhos, nada de cozinhas nojentas, nada de quartos sem porta e, o melhor de tudo é, tenho um chuveiro cujo chão não é o chão do resto da casa-de-banho.

 

No entanto, desde que mudei para aqui, parece que aquilo que me acontece tem de ser muito estranho para compensar a não presença de elementos estranhos na minha habitação.

Há umas semana atrás fui a Itália. Viajei sozinha, como é da minha marca. Num dia meio chuvoso, estava eu sentada num degrau de uma das 1500 igrejas de Veneza a preparar a minha sandes quando sou abordada por uma pessoa. Era um homem, de pele castanha, com ar de missionário. Fez-me várias perguntas, num inglês melhor que o comum "italiano-inglês". Eu, da forma mais seca que consegui, respondi às perguntas. O assunto de conversa parecia ser inexistente, até que o senhor me perguntou se queria ir a casa dele. Aí, vi-me obrigada a levantar-me e ir embora. Tive medo que ele viesse atrás de mim e comecei a acelerar o passo. Ele não veio atrás de mim, mas o momento foi suficientemente estranho para me assustar.

Dias depois, a minha carteira desaparece.

Volto para a Dinamarca.

 

Alguns dias depois do regresso, combino esperar por um colega numa das praças mais movimentadas de Copenhaga. Espero durante cerca de 15 minutos. Pelos vistos, há qualquer coisa em mim que atrai pessoas estranhas. Nos últimos 5 minutos tive de ouvir um senhor, que apareceu do nada, que me fez perguntas, e que me voltou a assustar. Como se não bastasse, momentos depois chegou um amigo desse senhor e os dois começaram a falar comigo de forma assustadora. Consegui fugir quando o meu colega chegou.

 

Dias depois, estava eu no metro, de regresso a casa, à noite, e algo semelhante acontece. Estavam duas pessoas em todo o metro, contando comigo. A outra pessoa era um senhor com um sutaque polaco que decidiu falar comigo. Desta vez, o encontro foi assustador desde o início. A primeira frase que o senhor pronunciou foi, em inglês, "sabias que tens uns lábios muito bonitos?". Estava nitidamente bêbedo. E eu não tinha para onde fugir. Não respondi. Ele continuou a falar comigo. Para responder, sempre que possível, limitava-se a acenar. Por dentro desejava que ele saísse do metro o mais rápido possível. Ele eventualmente saiu, mas na estação onde eu também devia sair. Eu estava tão assustada que fiquei no metro e saí na estação seguinte para não ter de conviver com o polaco assustador mais tempo.

 

E a série ainda não acabou.

 

Ontem, fui a um dos meus bares preferidos em Copenhaga. É um bar de pessoas mais velhas, com um ar crescido, que está sempre cheio e onde há uma selecção de cervejas bastante diversificada. Há lá sempre imensos homens e mulheres com mais de 40 ou 50 anos. Essa é, aliás, uma das características que mais me agrada no bar. No entanto, ontem, essa característica tornou-se um pouco assustadora.

Como sou pequena, é normal para mim pedir às pessoas que estão ao balcão para me arranjarem um espacinho para eu fazer os meus pedidos. Como toda a gente fala inglês, aqui faço o mesmo. Nesse bar, normalmente, isso significa pedir a cinquentões charmosos e de barba branca para me deixarem chegar ao bar. Às vezes, eles metem conversa e ouço algumas das suas fascinantes histórias. Às vezes, essas histórias até têm como cenário Portugal.

Ontem, no entanto, já tardinho, a conversa não tinha como recheio histórias pessoais. Um dos senhores que, a certa altura, se desviou para eu chegar ao balcão, tinha uma barba grande, nariz grande e olhos pequenos. Pensei num Gandalf em formação quando o vi. É um cliente habitual, já o tinha visto ali antes. Quando se desviou fez-me algumas perguntas como "de onde és" e coisas normais desse género. Respondi. Um colega meu aproxima-se e diz-me qualquer coisa para eu acrecentar ao pedido. O senhor da barba pergunta-me "é o teu namorado?". Eu respondo que não. É então que a conversa se transforma no momento mais estranho de sempre. Ele diz "ah, é que eu queria dar-te um beijo". Virei a cara e ignorei o senhor. Mal tive oportunidade, fui para casa. Nunca pedalei tão rápido como ontem.