Oh, Portugal!
As saudades eram realmente gigantes. De tal maneira que me deu vontade de por num frasquinho todos os sinais de portugalidade com que me fui deparando ao longo destes dias, pequenos pormenores que, noutras condições, me teriam passado, certamente, despercebidos. Mas não há frasquinhos de memórias e, se os houvesse, não os poderia transportar na bagagem de mão, de modo que sou obrigada a guardá-los na memória e/ou aqui.
Além dos sinais de portugalidade, também as rotinas se tornaram deliciosas e recheadas de sentido. Portugal, ao contrário do que diz a canção de Coimbra, não tem mais encanto na hora da despedida, tem mais encanto na hora do regresso.
Ganham estranhas proporções as pequenas coisas como o senhor do café que se mete com os clientes, canta músicas infantis que toda a gente conhece e diz que são do "seu tempo"; o grupo de homens de várias idades, com os mais velhos barrigudos, que se deslocam de camioneta para fazer torneios de malha com almoço incluido. Almoço que, em vez de piquenique, é um almoço a sério, com direito a sopa e vinho em canecas (coisas de plástico não são "à homem"), tudo isso servido por uma poderosa mulher, única entre dezenas de homens, mas com o poder de "os por na linha", à boa maneira portuguesa. Ai ai. Que saudades! E a praia, ainda que ventosa! E a chuva de Aveiro! E as tardes passadas sentada no sofá a olhar para a televisão, as refeições preparadas pela mamã, as histórias dos professores da maninha, ouvir falar do barqueiro do Rio Zêzere que ainda está activo (talvez ainda faça a travessia num destes dias), o mercado da terrinha, os jantares de estudantes, conhecer montes de gente quando se sai à noite, saber onde estão os produtos no supermercado, conhecer as marcas, conduzir, apanhar laranjas e limões, dormir num colchão decente, as torradas nos cafés, o café que sabe a café!...
Oh, Portugal!