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Hoje apetece-me ter um blog.

Hoje apetece-me ter um blog.

Ontem tivemos direito a uma visita guiada ao edifício principal da Bauhaus em Weimar. Mais uma vez, oportunidade para aprender mais sobre a história da Universidade, da cidade, da Alemanha e do Mundo.

 

A Bauhaus para onde vim é, tal como tudo o resto neste país, uma recuperação daquilo que a bauhaus foi há 90 atrás com adaptações ao tempo actual. Mas a história e o percurso da escola é muito interessante. E o rapaz que a explicou também ajudou. Futuro arquitecto, de aspecto tipicamente alemão, era muito agradável à vista e simpático.

 

Pois muito bem.

O edifício central da Bauhaus em Weimar já existia antes do nascimento da escola. Era a sede da escola de artes que aqui existia no início do século, uma escola clássica, normal. Em 1919, Walter Gropius, julgo que a convite do duque que tomava conta da cidade na altura veio para Weimar e começou a Bauhaus.

A Bauhaus, berço de muitas ideias que revolucionaram as artes em geral, da pintura à arquitectura, pretendia ser um local de reunião das artes e das disciplinas. Gropius defendia que as artes estavam todas ligadas entre si e foi essa a filosofia da Bauhaus desde o início e foi essa filosofia que nos anos 90, quase decidiram fazer renascer a Bauhaus aqui, quiseram recuperar. Os ateliers e workshops são de livre acesso e estou mortinha para poder experimentar... A faculdade de media nasce na última década do séc XX precisamente sob o pretexto da reunião das artes para hoje me acolher.

 

Continuando, em 1919, Walter Gropius tornou-se o director-fundador da Bauhaus, escola de artes revolucionária. Esta universidade foi uma das primeiras a aceitar mulheres e as ideias partilhadas pelos professores nada tinham a ver com o classicismo a que a escola anterior e a cidade estavam habituados. Foi inovação a mais para uma cidade tão pequena. É certo que Weimar sempre foi uma cidade de mecenas e das artes mas a Bauhaus era demais para Weimar, principalmente numa altura em que o país ainda estava a recuperar da primeira guerra mundial e com uma crise a instalar-se novamente. Diz-se que os pais diziam às crianças de Weimar que, se não se portassem bem, as punham na Bauhaus. As pessoas tinham medo. E foi por isso que no início dos 20's se fez a famosa exposição da Bauhaus, com os trabalhos dos alunos num edifício projectado e construído de propósito para a ocasião, junto ao rio que divide Weimar em duas partes, o rio Ilm. E assim a população perdeu algum medo.

Com a chegada de Hitler a Weimar e ao poder nesta região, foi enviado para a Bauhaus um novo director, Nazi, que procurou apagar a Bauhaus e o seu legado. A Bauhaus mudou-se para Dessau, cidade rica e liberal e, em Weimar, o novo director, transformou a escola numa escola de arquitectura e destruiu tudo o que lembrasse a bauhaus, pinturas nas paredes dos edifícios, mobiliário e trabalhos diversos aí realizados. Hoje é possível ver algumas destas coisas graças a estudos e recuerações feitas nos anos 90. Nessa altura descobriram-se as pinturas por debaixo das camadas de tinta nazi e recuperou-se algum mobiliário. O escritório de Gropius que hoje se visita julga-se igual e no local do original graças a esses mesmos estudos.

O escritório de Gropius é, numa palavra, genial. O senhor pegou numa divisão do edificio que já existia e aplicou-lhe um tratamento arquitectónico e decorativo de mestre. Dividiu a sala de maneira a formar um cubo perfeito e cada área desempenha uma função. E eu nunca vou conseguir mostrar o quão genial era o senhor e quão genial é uma coisa tão aparentemente trivial como o seu escritório.

Depois de Dessau, com a expansão do Nazismo, a Universidade mudou-se para Berlim e, depois Chicago. Mas as diferenças culturais não a deixaram ser bem sucedida. Nos anos 90 regressa às origens. E a partir daqui já contei.

18 Mar, 2009

Buchenwald

 

Buchenwald foi, entre 1937 e 1945 um campo de trabalhos forçados. Lá morreram, de forma mais ou menos natural, pessoas de diversas proveniências, incluindo portugueses. Hoje pouco resta dessa altura. Na verdade, eles já nem chamam ao espaço "campo de concentração de Buchenwald", chamam-lhe "memorial às vítimas de Buchenwald". Mas o espaço, como lhe chamei, é mais.

Este terá sido um dos primeiros campos d concentração, diria eu, já que está localizado na região de onde partiu Hitler para o resto da Alemanha. Nesta altura, Weimar era a capital do Nazismo. O que é interessante porque a Bauhaus era aqui. As letras do portão de Buchenwald, onde se lê, em alemão, "cada um por si", têm uma fonte Bauhaus. (ainda não descobri a explicação). É extraordinário que o campo é enorme e muitos dos prisioneiros trabalhavam na cidade de Weimar e, ainda assim, a cidade parecia indiferente às atrocidades ali cometidas. No dia da libertação pelas tropas americanas a população de Weimar disse desconhecer aquilo que realmente se passava dentro da cerca de arame farpado. História muito mal contada. Realmente, quando o guia nos perguntou de quem era a culpa do genocídio responderam "Hitler", "SS" e "todos aqueles que apoiavam o partido Nazi". Cada vez mais me convenço que a culpa é, principalmente, do último grupo. Em Buchenwald houve toda uma população a compactuar com os Nazis e com as atrocidades de Buchenwald.

 

Mas Buchenwald hoje não tem a aparência que tinha em 1945. Weimar e Buchenwald, depois do fm da guerra, passaram a fazer parte da parte soviética da Alemanha. Os russos utilizaram, também eles o campo. Primeiro destruiram uma boa parte dos edifícios porque "não se adequavam à história que os soviéticos queriam contar" e depois usaram uma pequena parte como prisão para prisioneiros políticos e outros, inocentes, por outras palavras, nazis e inocentes. Alguns morreram de fome ou doença. Esta fase, no entanto, já foi bem mais escondida que a anterior. Não era bom para a imagem dos soviéticos. Ainda durante a sua ocupação, Buchenwald foi usado como forma de propaganda comunista, enaltecendo as vítimas comunistas do campo. Graças à queda do muro, hoje sabemos isto. Hoje o campo conta as histórias dos tempos do Nazismo e do Comunismo, ambos épocas negras da história da Alemanha e da Europa.

 

Não longe do portão principal existe hoje uma placa, monumento de homenagem às vítimas. A placa é aquecida para estar à temperatura do corpo, coisa estranha de sentir num ponto alto, ventoso e frio da região. Diz muita coisa, este monumento.

 

É uma experiência e pêras esta visita. Não é fácil, é informativo e impressionante.

 A primeira semana de verdadeira actividade em Weimar foi bem recheada. Aconteceu tanta coisa que sinto que estou em Weimar há um mês e não há uma semana.

Segunda-feira foi o grande encontro com os outros exchange students, teste de alemão e tour por Weimar. Nós, estudantes estrangeiros na bauhaus, somos ainda uns quantos e vimos de países como Austrália, USA, Itália, Noruega, Inglaterra, Escócia, Canadá e Irlanda. Eu sou a única portuguesa este semestre. Já encontrei o outro estudante português na Bauhaus, é arquitecto e está aqui desde o semestre passado. A maioria dos estudantes estrangeiros, como este rapaz, são arquitectos. Ainda não encontrei mais ninguém que vá fazer o mesmo curso que eu.

Durante o resto da semana houve alemão todos os dias pela manhã, Bowling numa das noites, Ópera + saídaatétardecomdireitoadançaetudo noutra das noites, saída com jantar simples, e saída com jantar em restaurante Turco.

 

No sábado fomos todos a Leipzig, onde quero voltar mal possa. É uma cidade grande que, como eu gosto, concilia arquitectura moderna com arquitectura antiga. Tal como Weimar, uma boa parte foi destruída durante a 2ª Guerra Mundial. Tal como em Weimar, o centro da cidade foi reconstruído fielmente àquilo que estava antes. 

Fui à igreja onde Bach, que viveu em Weimar, tocou/dirigiu o coro diversas vezes. E estive na igreja onde muitos dizem ter começado o movimento que tornou possível a queda do muro de Berlim.

Parece que na Alemanha, onde quer que se vá, se respira história. Ontem vi o "Australia" com alguns dos meus compinchas. O filme passa-se na altura em que a 2ª Guerra rebenta. Aqui senti-me mais próxima da história, mais consciente, um pouco, até, responsável. Uma das minhas compinchas americanas é judia. Até agora, a 2ª guerra era, para mim, uma coisa distante. Agora é uma nuvem que paira constantemente, como se de repente me apercebesse de quais foram os dois lados envolvidos. E é um pouco assim. E ainda bem. Amanhã vou a Buchenwald. Aí vou perceber até que ponto cresceu essa minha "consciência".

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